Bastidores: O "Bunker" do Sul e o Recado do PSD a Jorginho
A política catarinense não permite vácuos, e o PSD decidiu ocupar o seu com barulho. Se alguém ainda tinha dúvidas de que o projeto do PSD para 2026 era "pra valer", o evento realizado nesta quinta-feira (4) em São José tratou de dissipá-las. Mas, para além dos discursos inflamados, o que chamou a atenção de quem opera na sala de máquinas da política foi a demonstração de força vinda do Sul do estado — a região que se consolidou como a trincheira de resistência à hegemonia do Partido Liberal (PL).
A Muralha de Criciúma
No palco, a presença do ex-prefeito Clésio Salvaro e de seu sucessor, Vagner Espíndola (Vaguinho), não foi apenas protocolar. Eles representam o "troféu" mais valioso do partido: a vitória em Criciúma nas eleições de 2024. Para a cúpula pessedista, Criciúma é a prova de conceito. Foi lá que a máquina do governador Jorginho Mello, apostando todas as fichas em Ricardo Guidi (PL), colidiu com a articulação local de Salvaro e Júlio Garcia. A presença de Vaguinho, agora com a caneta na mão, ao lado de Salvaro (sem a caneta, mas com o capital político intacto), serviu para lembrar aos presentes que o PL não é invencível.
O Arquiteto em Cena
Discreto como de costume, mas cirúrgico nas palavras, o deputado Júlio Garcia — a eminência parda do PSD no Sul — deu o tom da estratégia. Sua frase, repercutida nos bastidores, de que "time que não joga, não ganha", foi a senha para legitimar a pré-candidatura de João Rodrigues ao governo. Júlio, que opera com a precisão de um enxadrista, sabe que para enfrentar a capilaridade do PL em 2026, a unidade construída no Sul precisa ser replicada no Oeste e no Vale.
O Recado Claro
O evento desta semana não foi apenas uma festa partidária; foi um aviso de "interdição" de qualquer conversa que coloque o PSD como coadjuvante. Com o "bunker" do Sul pacificado e vitorioso, e com João Rodrigues percorrendo o estado, o partido tenta forçar o governador Jorginho Mello a recalcular a rota: ou aceita uma guerra aberta onde o PSD tem prefeituras estratégicas (Chapecó, Criciúma, Florianópolis), ou terá que negociar em termos muito mais caros do que imaginava.
Enquanto o Centro Administrativo tenta minimizar a movimentação, o Sul do estado já escolheu seu lado na trincheira. E avisou: em 2026, eles terão candidato.
Bastidores: O cerco ao PT e a "guerra de egos" no PL do Sul
Os bastidores da política catarinense fervilham nesta semana com estratégias distintas. De um lado, a macro-política estadual tenta desenhar um cenário para isolar a esquerda tradicional; do outro, disputas paroquiais no Sul do estado ameaçam a unidade da direita.
O Xadrez para isolar o PT
Fontes indicam que a ordem do dia, articulada por lideranças próximas a João Rodrigues, é clara: "quanto mais candidaturas, melhor". O objetivo estratégico é pulverizar o cenário para diluir votos e isolar o Partido dos Trabalhadores (PT).
Nessa engenharia, a pressão recai sobre o tucano Marcos Vieira (PSDB) para encabeçar uma candidatura ao governo. Há, inclusive, laboratórios mais complexos na mesa: uma composição com o PSB (40) na cabeça de chapa, trazendo Paulo Bauer (PSDB) na composição, numa tentativa de empurrar o PT para a vice.
O cenário, contudo, esbarra no "DNA" petista. A sigla mantém-se irredutível, exigindo o protagonismo na urna e recusando o papel de coadjuvante. Diante desse impasse, a esquerda fragmenta-se: o PSOL consolida seu projeto próprio e, sem acordo com o PT, deve lançar candidatura solo, com o vereador de Florianópolis, Afrânio Boppré, cotado para liderar a frente.
Enquanto isso, na direita liberal, o Partido Novo parece ter pés no chão. O nome de Adriano Silva, visto como forte puxador de votos, deve focar na manutenção de espaço na Câmara Federal. Avaliações internas colocam o político no "Top 3" da corrida para deputado federal, desestimulando aventuras numa disputa majoritária incerta.
Tempestade em Florianópolis: As crises que ameaçam PL e MDB
O cenário político catarinense não é mais o mesmo. Nos corredores do poder, a sexta-feira foi marcada por análises sobre o futuro incerto das duas principais legendas do estado. De um lado, o MDB vive o que muitos chamam de "agonia política", perdendo protagonismo e vendo sua influência histórica minguar a ponto de se tornar sócio minoritário nas próximas chapas.
Do outro lado, o gigante PL sofre com dores do crescimento e divisões internas. A tentativa de nacionalizar a pauta local através da figura de Carlos Bolsonaro criou um racha: a maioria da bancada estadual torce o nariz para a influência do vereador carioca, que conta com apoio restrito de nomes como Jessé Lopes, Sargento Lima e Alex Brasil.
Essa fricção pode custar caro. A deputada Carol De Toni, uma das principais vozes do partido, estaria com um pé no Partido Novo, insatisfeita com as diretrizes atuais. Para completar o quadro de tensão, o senador Jorge Seif vê sua imagem ameaçada por um imbróglio trabalhista vindo à tona na imprensa nacional, envolvendo uma ex-funcionária, o que promete ser um ponto de ataque constante da oposição.
Fogo Amigo: A crise no PL do Sul
Se na capital o foco é a engenharia partidária externa, no Sul do estado o Partido Liberal (PL) vive uma guerra doméstica. O que deveria ser uma construção de candidaturas naturais transformou-se em um campo de batalha movido por disputas de espaço e, segundo fontes internas, muita "ciumeira".
O Embate Soratto vs. Penacho
O foco principal do incêndio está na Assembleia Legislativa. Até pouco tempo, o nome de Graziele Soratto, esposa do atual prefeito Estêner Soratto Júnior, era tratado como a escolha natural do grupo. No entanto, a percepção de uma hegemonia familiar gerou anticorpos.
Uma ala influente do partido, incomodada com a ideia de que o grupo de Soratto "quer tudo", articulou uma contraofensiva rápida, lançando o nome de Guilherme Penacho, vice-prefeito de Armazém. Penacho surge não apenas como alternativa, mas como um recado claro da base: não haverá imposição sem disputa prévia.
A Manobra de Júlia
Como se não bastasse a disputa pela Alesc, o cenário federal também enfrenta turbulências. Informações de bastidores apontam que a deputada Júlia Zanatta estaria operando para colocar seu esposo na vaga hoje associada ao deputado Ulysses. A movimentação é vista como uma tentativa de substituição que adiciona mais pólvora a um ambiente já saturado.
Resumo da Ópera
O diagnóstico de quem acompanha o dia a dia da sigla no Sul é direto: a situação é difícil. Se a liderança estadual não intervier para pacificar os ânimos, o PL corre o risco de chegar às urnas fragmentado, trocando vitórias certas por disputas de ego.
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